O Dia Internacional da Mulher foi oficializado em 1975 pelas Nações Unidas. Desde a proposta de Clara Zetkin no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas em 1910 para assinalar este dia, até à mais recente Greve Internacional Feminista que tem provocado uma paralisação social em vários países, incluindo Portugal, Março é um mês que nos aviva a memória histórica sobre o caminho que já fizemos de reivindicação e conquista dos direitos das mulheres. Mas não se resume a olhar para trás e a celebrar os passos dados no trilho da igualdade.
Março também nos convoca a olhar atentamente o presente da vida das mulheres e raparigas e a assumir, com olhar determinado e mangas arregaçadas, um forte compromisso com o seu futuro e com o que ainda falta fazer para se alcançar uma igualdade plena. E falta muito… por isso dizemos, não só a 8 de Março mas em todos os dias do ano, “Não queremos flores. Queremos direitos!”.
Este ano viveremos o 8 de Março confinados/as, conscientes que as consequências e o impacto da pandemia na vida de todos e todas é indiscutível e partilhando uma crescente angústia coletiva que se faz sentir, especialmente, devido às incertezas que nos reservam os próximos tempos. Porém, a crise instalada e os seus impactos não afeta todas as pessoas na mesma medida, estando as mulheres e raparigas dentro dos grupos mais afetados pela pandemia. Importa por isso, colocarmos lentes de género para olharmos para o impacto da COVID-19 na vida das mulheres em Portugal e no mundo. Vários são os dados que nos têm vindo a alertar para esta realidade.
Dos muitos que poderia citar, destaco três. Em primeiro lugar, o facto das mulheres e raparigas terem sido as primeiras a perder o emprego e os rendimentos durante a pandemia1. Sendo que a ONU estima que 47 milhões de mulheres e raparigas caiam em pobreza extrema durante 20212. O segundo aspeto prende-se com o agravamento da violência a que estão expostas. Estima-se que 1 em cada 3 mulheres no mundo sofra violência física ou sexual tornando a violência contra as mulheres a mais frequente violação dos direitos humanos e a menos denunciada3. Em Portugal, os pedidos de ajuda por SMS e email nos serviços de apoio a vítimas de violência doméstica quadruplicaram4.
O último aspeto diz respeito ao lugar que as mulheres ocupam no combate à pandemia, estando sobre representadas nos trabalhos considerados essenciais (distribuição de bens, saúde e educação) e com maior exposição e risco ao contágio5.
A cada dia que passa a pandemia torna mais visível as desigualdades estruturais que se faziam sentir. É importante que os planos de ação para o pós pandemia incluam medidas diferenciadas de proteção e apoio aos grupos mais vulneráveis e fragilizados pela pandemia.
A situação das mulheres e raparigas é merecedora de um olhar cuidado e de uma ação concertada que integre uma perspetiva de género na delineação das políticas de apoio à recuperação da crise. Só assim conseguiremos combater a agudização das desigualdades de género e prevenir um grave retrocesso em matéria de igualdade que, direta ou indiretamente, tenham sido acentuadas pela pandemia.
É uma urgente questão de justiça social criarmos condições para que as mulheres e raparigas possam concretizar os seus objetivos e sonhos.
Não podemos ficar de braços cruzados.
Cabe-nos a todos e todas, fazer com que todas contem! – um repto de Março, para os restantes meses.
FONTES:
(3) https://news.un.org/pt/story/2018/11/1648831
NOTA BIOGRÁFICA
Ana Forte
É facilitadora do Programa Play – Associação CAIS.
É doutorada em Ciências da Educação e do Comportamento e enquanto formadora colabora com diferentes organizações desenvolvendo percursos de aprendizagem relacionados com igualdade e violência de género, inclusão, diversidade e direitos humanos.
No cruzamento das suas experiências profissionais nutre um grande interesse pela construção de pontes entre diferentes saberes e contextos, a teoria e a prática, a educação formal e a não formal e pela facilitação da ligação entre pessoas, margens e objetivos.