A 20 de janeiro de 1937, no discurso inaugural do seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos da América, Roosevelt deixou-nos esta ideia:
“O teste do nosso progresso não é se nós adicionamos mais à abundância daqueles que têm muito; é se nós garantimos o suficiente àqueles que têm muito pouco.”[1]
Num tempo extraordinariamente complexo, com o país e o mundo ainda em vésperas da II Guerra Mundial e a meio de um processo e recuperação, Roosevelt faz depender o conceito de progresso da capacidade de – e esta é uma interpretação minha, mas que me parece razoável – não deixar ninguém para trás.
Eu concordo.
Um país, uma comunidade, a Humanidade, não se pode permitir descansar enquanto não for capaz de criar condições para garantir o mínimo indispensável a qualquer pessoa que, por alguma razão e num determinado momento da sua vida, não está capaz de o fazer.
Estamos em Portugal, em fevereiro de 2021.
Passou cerca de um ano desde que as medidas de combate à pandemia se começaram a sentir e estamos numa das suas fases mais complexas.
A vacina está a ser administrada e pensamos começar a ver luz ao fundo do túnel.
Mas estará mesmo lá?
Os efeitos desta pandemia são já devastadores no número de mortes, e não o são menos nos efeitos que começam a fazer-se sentir de forma aguda na saúde física e mental da população em geral.
Na economia, dizem os especialistas, as consequências serão também arrasadoras e, nesse aspeto em particular, o pior ainda está para vir.
Os sinais estão todos bem à vista e o relatório 2020 sobre a pobreza e a exclusão social em Portugal[2] do Observatório Nacional da Luta contra a Pobreza confirmam os nossos piores receios:
“Em 2019, num contexto economicamente mais positivo, Portugal contava já com quase 60% dos desempregados em risco de pobreza ou exclusão social e apenas 30.6% estavam a beneficiar do subsídio de desemprego.“
Acresce a tudo isto a certeza de que em momentos de crise sofrem ainda mais e em primeiro lugar aqueles que já antes sentiam mais dificuldades, num ciclo vicioso que amputa ainda mais futuros, cava ainda maior o já grande fosso de desigualdades e deixa pouco espaço para otimismos.
E agora?
Penso que este é o tempo de, com ainda maior arrojo, dar ação e realidade às palavras de Roosevelt e de tantas e tantos outros que compreendem a absoluta necessidade de não deixar ninguém para trás.
A Associação Cais é a realização prática, diária, persistente e encorajadora desta visão tão poderosa: TODOS CONTAM!
E este é um desafio sem suplentes, para que estamos – cada uma e cada um de nós – convocados.
Da forma que for possível, com a força e o apoio que formos capazes de entregar.
Porque é mais fácil ignorar do alto do nosso conforto que ao nosso lado há quem procure uma mão para se levantar.
E hoje, provavelmente tanto ou mais do que no ano em que nasceu, a missão da CAIS é um grito de alerta que não podemos ignorar.
Contribuir para a melhoria global das condições de vida de pessoas social e economicamente vulneráveis, em situação de privação, exclusão e risco.
Por isso, em 2021 vamos precisar de nos unir contra a indiferença que nos confina a esperança.
Porque muita coisa parou. Mas a vida não.
[1] Tradução do autor da versão original: “The test of our progress is not whether we add more to the abundance of those who have much; it is whether we provide enough for those who have too little.”
[2] https://on.eapn.pt/produtos/relatorios/
Notas sobre o autor:
Joaquim Castro de Freitas é membro da direção da Associação CAIS.
Tem 36 anos, é casado e tem uma filha. Vive em Vila Nova de Famalicão.
É licenciado e mestre em Ciências da Educação e profissionalmente é responsável de comunicação da Agência Erasmus+ Juventude em Ação e Coordenador da Rede Eurodesk Portugal.
É, ainda, membro do Comité Europeu da Organização Mundial do Movimento Escutista.