Por Sandra Câmara Pestana, nova Diretora-Executiva da CAIS
Neste primeiro mês de trabalho na CAIS, senti um misto de emoções entre a motivação (pelo novo desafio) e a ansiedade (pelo desconhecido). Para mim, o acolhimento de uma organização faz toda a diferença para quem chega, é a primeira impressão. A entrega e a dedicação de todos os que me receberam transmitiram-me de imediato um sentimento de pertença. Posso dizer que já me sinto em casa porque esse acolhimento espelha a cultura da CAIS.
Os primeiros tempos foram dedicados ao conhecimento do ecossistema do setor: o papel do setor publico e privado, a importância dos mecenas e cidadãos, os utentes, as leis,… – e um número infindável de siglas. Assisti a conferências e reuniões online, e sendo todas as preocupações de grande importância, chamou-me particularmente a atenção, o tema do preconceito/estigma por parte da sociedade perante as pessoas social e economicamente vulneráveis, em situação de privação e exclusão.
Como já foi referido anteriormente, “A Dra. Conceição Cordeiro saiu de missão cumprida, deixando um legado de solidez e consistência que necessita ser continuado e reinventado no presente e no futuro”. Reinventar, inovar e “fazer diferente”, num contexto de pandemia e de extrema vulnerabilidade social, vai exigir muita criatividade e pensar “fora da caixa”.
A atividade da CAIS desenvolve-se essencialmente em regime presencial, privilegiando o contacto e o calor humano, mas a crise pandémica veio mudar essa lógica. Os nossos utentes tiveram que se habituar a uma “nova realidade”, às máscaras que escondem sorrisos e ao distanciamento social, que nos impede de dar aquele simples aperto de mão ou abraço que transmite tanta força e esperança.
É do conhecimento geral que a pandemia veio acelerar a inovação em vários setores da economia, com principal impacto na área digital. Segundo um estudo do INE (1), em 2019, verificava-se que: i) 80,9% dos agregados familiares em Portugal tinham acesso à internet em casa; ii) o telemóvel ou smartphone era o equipamento mais referido pelos utilizadores de internet (82,5%) para aceder à internet em mobilidade e, iii) 80% dos utilizadores de internet participavam em redes sociais.
Em janeiro 2020, outro estudo (2) analisou a atividade e a presença dos portugueses e destacando-se o Youtube e o Facebook, com 90% dos utilizadores a usá-las de forma ativa.
É de notar o elevado número de utilizadores das plataformas de “messaging”, Facebook Messenger e Whatsapp, com respetivamente 73%. O Instagram ocupa o 5º lugar e o Linked In o 8º lugar.
Hoje, se realizássemos esses estudos, os dados seriam certamente diferentes. O teletrabalho e o confinamento mudaram a sociedade que se tornou omnichannel: anytime, anywhere, under any condition e, há mesmo quem diga que este fenômeno é transversal a todas as gerações: Baby Boomer (nascidos entre 1940-59), Gen X (nascidos entre 1960-79), Gen Y (millennial, nascidos entre 1980-94) a Gen Z (nascidos entre 1995-2010). Se a internet e as redes sociais permitem chegar a cada vez mais pessoas, devemos aproveitar esta oportunidade para divulgar, partilhar e fazer participar cada cidadão no nosso combate à pobreza e à exclusão social.
Não devemos ter receio do mundo virtual, acredito que as Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC estão cá para servir o ser humano e não o contrário. Estar “conectados” permitir influenciar, catalisar as transformações sociais e impulsionar a geração de uma consciência social e coletiva. Devemos impedir a reprodução de estereótipos e de preconceitos, temos que mudar o olhar que a sociedade tem sobre estes grupos da população e estes problemas sociais. Muitas pessoas que passam hoje por privações, têm vergonha de pedir ajuda para não ser apontadas como subsídio-dependentes, inúteis, quando na realidade têm esse direito, como qualquer cidadão.
Este momento, em que a sociedade está a passar por enormes incertezas e fragilidades, é a altura certa para usarmos estes meios como instrumentos de comunicação para Motivar · Envolver ·Interiorizar · Comprometer cada um de nós!
Porque na realidade que seja virtualmente ou presencialmente, todos contam, e muito.
Por todas estas razões, em 2021, a CAIS promete muitas novidades.
- (1) Fonte: Sociedade da Informação e do Conhecimento – Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação nas Famíliasde 21/11/2019. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=354447153&DESTAQUESmodo=2
- (2) Fonte: https://datareportal.com/reports/digital-2020-portugal