O Alexandre Teixeira é o novo Coordenador do Centro CAIS Porto, assumiu este desafio em julho do presente ano. Passados já alguns meses, esteve à conversa connosco e falou-nos um pouco sobre si e sobre a sua nova missão.
Antes de mais, muito obrigada por ter aceite conversar connosco, Alexandre. Para o conhecer-mos melhor, conte-nos, resumidamente, como foi o teu percurso até aqui?
Em 2005 aquando da celebração dos primeiros Protocolos de RSI, com a criação de equipas multidisciplinares, para acompanhamento de agregados familiares beneficiários desta medida social, comecei a trabalhar em alguns dos territórios psicotrópicos mais estigmatizados da cidade do Porto, como era o caso dos bairros da Pasteleira, Pinheiro Torres e Aleixo. Essa experiência foi muito enriquecedora e permitiu-me posteriormente abraçar o desafio de implementar uma nova resposta social, na maior freguesia da cidade do Porto, a RLIS/SAAS da freguesia de Paranhos. A Rede Local de Intervenção Social, mais tarde denominado Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social, pretendeu dar uma resposta de primeira linha, a todas as situações de fragilidade social, aos residentes nesta freguesia. Desde o seu início em 2016 que pretendemos montar uma resposta de qualidade e proximidade para todos aqueles que por algum motivo, careciam de uma resposta ou prestação social de proteção.
Fale-nos um pouco de si, Alexandre, o que costuma fazer além do trabalho, quais ou seus interesses e/ou aspirações?
Para além do meu “day job”, tiro imenso prazer em dar formação e de colaborar na formação de novos colegas, na área da intervenção comunitária com grupos socialmente mais vulneráveis e frágeis. Um dos meus interesses mais antigos, passa também pelo estudo e compreensão dos comportamentos suicidários, nomeadamente, o seu estudo junto de trabalhadoras do sexo, que continuam ainda hoje a ser um grupo particularmente estigmatizado e vulnerável.
Como chegou até nós? Já conhecia a Associação CAIS e o seu trabalho, certo? Qual era a sua percepção?
Costumo dizer, em jeito de brincadeira, que o Porto é uma aldeia. Ao fim de algum tempo, todos nos cruzamos e nos conhecemos. Felizmente tive a sorte de conhecer os dois últimos coordenadores do Centro CAIS Porto. Assim fui podendo acompanhar o trabalho realizado, e a relação de confiança e proximidade, com os destinatários da sua intervenção, que é algo com que me identifico bastante.
Quais foram os principais motivos, ou as principais razões para ter aceite este novo desafio?
Depois de 11 anos a trabalhar com famílias beneficiárias de RSI, e 5 anos a coordenar um Serviço de atendimento social de 1ª linha, julgo que era o momento de aceitar um novo desafio profissional, e como julgo que neste momento não temos, enquanto Sociedade, desafio maior do que erradicar as situações extremas de pobreza e exclusão social, do qual as pessoas em situação de sem-abrigo, serão a face mais visível, achei que era o momento ideal de me juntar à CAIS.
Tendo em conta que ainda está numa fase de adaptação, a de apreender muita informação e dinâmicas internas de organização de trabalho, já nos consegue indicar quais os principais desafios que o Centro CAIS Porto irá enfrentar?
Um desafio que todas as instituições de intervenção social irão ter, tem que ver com a sustentabilidade financeira, nomeadamente neste período de incerteza causado pela transferência de competências da intervenção social para as Autarquias, que na cidade do Porto, ainda se encontra bastante indefinido. Um outro desafio prende-se com a consolidação da nossa intervenção, quer junto da nossa população alvo, quer junto dos diferentes parceiros da cidade.
E, já agora, quais as principais dificuldades que espera enfrentar?
Quando falamos de intervenção com pessoas em situação de sem-abrigo, não nos podemos esquecer, que falamos sempre de uma intervenção subfinanciada. As pessoas em situação de sem-abrigo, ainda não têm hoje uma voz reivindicativa forte, que obrigue os decisores políticos a aportarem mais recursos para esta área. Assim as principais dificuldades, julgo que passarão também por encontrar novas e alternativas formas de financiar a nossa intervenção.
Vivemos um período difícil, a pandemia veio adensar a situação de pobreza de muitas famílias portuguesas. Na sua opinião, e com a experiência que tem, como é que a sociedade civil pode intervir neste flagelo?
Da minha experiência profissional, ao longo da Pandemia, a sociedade civil, tem tido um papel fundamental, de altruísmo, dedicação e generosidade, que contribuiu muito para ajudar a mitigar as consequências da pandemia, nos grupos financeiramente mais vulneráveis. O desafio, neste momento é conseguir manter essa energia e foco, mesmo em períodos que não são extraordinários.
E como a CAIS deve responder a este problema?
A CAIS continua diariamente, a tentar junto da sociedade civil e de diferentes parceiros institucionais, encontrar mais e melhores respostas, que visam colmatar as necessidades daqueles que nos procuram, por isso nesse sentido, julgo que o Centro CAIS Porto vais continuar a procurar diariamente proporcionar respostas dignas que permitam uma melhoria das condições de vida dos nossos utentes.
Quer fazer algum apelo para que mais instituições/pessoas se juntem à missão da CAIS?
Na realidade a missão da CAIS, não é a missão da CAIS, é a missão de todos e cada um de nós, que recusamos viver numa sociedade moderna, democrática e livre e na qual se considera natural que existam pessoas a viver na rua em situações sub-humanas.
Todos nós que não aceitamos como natural e inevitável a existência de pessoas a viverem na rua, podem fazer algo quanto a isso, seja através de voluntariado, seja através de mentoria, seja através de doações.
Por vezes mudar uma vida para melhor, começa com um pequeno, mas significativo gesto, que está ao nosso alcance.
Nota Biográfica
Alexandre Teixeira, Coordenador Centro CAIS Porto
Psicólogo (2004), pelo Instituto Superior da Maia. Com Especialidade em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialidade avançada em Psicologia Comunitária (OPP); Pós-Graduado em Ciências Médico Legais (2006) e Mestre em Medicina Legal (2010), pelo ICBAS-UP; Doutorando na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Exerceu atividade, desde 2005 até 2016, como Psicólogo Comunitário numa equipa multidisciplinar com enfoque na progressiva autonomização e integração social e laboral de beneficiários de R.S.I., particularmente com indivíduos com consumos ativos de substâncias psicotrópicas, residentes, em bairros sociais da Freguesia de Lordelo do Ouro no Porto.
Entre 2016 e 2021 foi Coordenador da Rede Local de Intervenção Social (RLIS) e do Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS) da Associação Norte Vida na Freguesia de Paranhos, no Porto.
Desde Julho de 2021 que é o Coordenador do Centro CAIS do Porto, cuja intervenção é dirigida para a progressiva autonomização e empoderamento de pessoas em situação de sem-abrigo, em situação de carência económica severa e/ou com dependência de SPA.