A maior das pobrezas é definitivamente a de espírito. É uma pobreza cega e repleta de preconceito que resulta numa apática indiferença, que transforma em lindo papel de parede, as pessoas questão nas ruas, nas pontes, nos viadutos, inclusive nos recantos mais sujos das nossas cidades. Esta pobreza de espírito, ainda é bem mais grave do que uma outra mais recente: a pobreza que não se vê – a escondida e envergonhada. O que é certo é que qualquer uma delas, quando não combatida, é invisivelmente galopante.
É recorrente um departamento criativo discutir e sonhar vezes sem conta com uma dita sociedade mais justa e evoluída. Aqui, é consensual e de forma incansável, não parar nunca de contribuir com ideias. Mas procurar uma sociedade melhor, significa que uma pequena parte de nós e dos nossos dias deverá estar alocada e dedicada à irradicação da pobreza, pois afinal cabe mesmo a cada um de nós, cuidar de todos. E cada um combate com a arma que tem mais à mão: no nosso caso, é e será sempre através de campanhas publicitárias com ideias e imagens que buscam sempre mudar comportamentos. São conceitos criados com mensagens e apelos que passam nas nossas televisões e smartphones e que tentam acordar zombies que vivem entre o conforto dos seus sofás e o acento do automóvel.
São esses indiferentes o nosso grupo-alvo. É para esses zombies de consola e smartphone na mão que trabalhamos, para os impactar. Mas não é fácil na discussão criativa se devemos fugir ao estereotipo, ou se devemos ter um tom mais ou menos dramático. O que é unânime entre os criativos é que não poderemos nunca produzir comunicação de falinhas mansas para a dimensão que o problema apresenta. O que importa mesmo é não sermos meigos na mensagem correndo o risco de perder para a indiferença. Foi desta forma que ao criarmos uma campanha para o Consórcio da Irradicação da Pobreza, apelámos por uma oportunidade para quem mais precisa. Não é novidade para ninguém que viver na pobreza é viver num filme de terror. “Tire-o deste filme”, foi o mote criativo da peça por nós criada, estabelecendo assim o paralelismo entre a vida real e o próprio filme publicitário. Depois a locução continua: “Ao apoiar Projetos de Capacitação, está a a habilitar quem mais precisa para o mercado de trabalho. Afinal basta uma oportunidade para mudar o guião de uma vida.”
Para ajudar a materializar o conceito, numa alusão ao cinema, tudo acontece num estúdio, onde está caracterizado um homem maltratado pela vida. Uma mão que representa a oportunidade de trabalho, entra em cena e arranca-lhe o rosto da privação, removendo-lhe pedaços de caraterização, acabando por deixar a descoberto uma cara nova e reencontrada para a vida.
José Bomtempo, desenvolveu ao longo da sua já longa carreira publicitária, inúmeras campanhas publicitárias para as mais diversas causas sociais. Hoje desempenha as funções de Chief Creative Officer and Partner na Bar Ogilvy, agência criativa do grupo WPP em Portugal.